São José, 7 de setembro de 2021 (IICA) – Ministros e secretários de 33 países das Américas fizeram um chamado ao fortalecimento da segurança alimentar, da sustentabilidade ambiental e da criação de mais e melhores oportunidades para a população rural, posicionando o setor agropecuário e os sistemas agroalimentares como ativos estratégicos para se avançar rumo a esses objetivos.
Em dois dias de deliberações na Conferência dos Ministros da Agricultura das Américas 2021 e da Junta Interamericana de Agricultura (JIA), os ministros ratificaram a posição unânime da região em defesa da agricultura como atividade vital para a segurança alimentar e propulsora do desenvolvimento nas zonas rurais.
Essa posição consensual, adotada pelos ministros e alcançada após diálogos nacionais, regionais e hemisféricos organizados com o apoio do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), será levada à Cúpula sobre Sistemas Alimentares da ONU no próximo 23 de setembro em Nova York.
“Sistemas alimentares: aprovamos uma posição conjunta dos países das Américas em defesa da nossa agricultura, do meio ambiente e da segurança alimentar. A nossa mensagem defende o fim do protecionismo agrícola, condições justas de emprego, renda e a importância da inovação no campo”, resumiu a Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, Tereza Cristina, que presidiu as sessões.
O continente americano será o único que participará desse encontro com uma postura convergente, definida por um documento de 16 mensagens negociadas entre os 34 Estados membros do IICA, sob a coordenação do Instituto.
Os ministros da agricultura das Américas se comprometeram também a combater com iniciativas nacionais e hemisféricas, e de forma coordenada, a peste suína africana, cuja detecção recente na República Dominicana suscitou preocupações em toda a região devido ao seu efeito potencial sobre uma indústria de enorme relevância e ao risco que representa para a segurança alimentar.
O compromisso foi assumido na Conferência Ministerial, em que o Ministro da Agricultura da República Dominicana, Limber Cruz, informou sobre a situação atual e as ações que estão sendo postas em prática no seu país, que em julho notificou oficialmente o surgimento da doença no seu território.
A peste suína africana estava ausente do continente há quase 40 anos, tendo feito seus últimos aparecimentos em Cuba em 1971 e 1980, no Brasil e na República Dominicana em 1978 e no Haiti em 1979.
Esse vírus “pode afetar a estabilidade da indústria suína do hemisfério, especialmente dos médios e pequenos produtores, sendo, portanto, fundamental o trabalho colaborativo entre os serviços veterinários oficiais e o setor privado”, disseram os ministros.
Para atender a essa preocupação, solicitaram ao Diretor Geral do IICA, Manuel Otero –reeleito para dirigir o organismo internacional especializado em desenvolvimento agropecuário e rural entre 2022 e 2026 – que apoie o desenvolvimento e a execução de projetos e ações binacionais e implemente planos de trabalho em espaços sub-regionais para erradicar os focos e prevenir e conter a disseminação do vírus.
Cúpula sobre Sistemas Alimentares e ênfase na sustentabilidade
Dos debates participaram a Vice-Secretária Geral da ONU, Amina J. Mohammed, e a Enviada Especial do Secretário-Geral da ONU para a Cúpula sobre Sistemas Alimentares, Agnes Kalibata, as quais trataram do contexto desafiador e das oportunidades em matéria de segurança alimentar, produção, consumo e sustentabilidade.
“Estamos nos preparativos finais para a Cúpula sobre Sistemas Alimentares, sob uma pressão que não tem antecedentes devido à pandemia da Covid-19 que levou vidas e fontes de renda e reverteu o progresso alcançado na Agenda 2030 e no cumprimento dos ODS”, disse Mohammed, que definiu à próxima Cúpula como um exercício de “multilateralismo efetivo em ação” e a considerou como “um dos motivos para se ter esperança nessa crise da Covid-19”.
“Não existe uma solução que sirva para todos os desafios impostos aos sistemas alimentares. Mas, em todos os contextos, há oportunidades para inovar e acelerar o caminho para o cumprimento da Agenda 2030”, disse Mohammed.
A Enviada Especial do Secretário-Geral da ONU para a Cúpula de Sistemas Alimentares 2021, Agnes Kalibata, sustentou, por sua vez, que o encontro global de 23 de setembro em Nova York será uma oportunidade para se fixar linhas de ação com vistas a se alcançar a meta da fome zero no mundo.
Após a sua participação na Conferência, Kalibata, que preside a Parceria para a Revolução Verde na África (AGRA, sigla em inglês), firmou um acordo com o Diretor Geral do IICA pelo qual as duas instituições deverão promover em conjunto a recuperação de solos férteis, o combate à pobreza e à fome e a transformação dos sistemas agroalimentares nas suas respectivas regiões.
“Esta é uma cúpula para a ação. Precisamos de ações concretas para continuarmos fortalecendo os sistemas agroalimentares”, disse Otero, que apresentou, além de um relatório sobre as ações do Instituto no caminho para a Cúpula sobre Sistemas Alimentares, um balanço da sua gestão iniciada em 2018, durante a qual o IICA se firmou com base em uma agenda inovadora e moderna.
“Os produtores agropecuários são o elo central dos sistemas alimentares e deve haver políticas públicas diferenciadas para esses atores que dão vida à ruralidade”, observou o veterinário de nacionalidade argentina.
Na reunião, o Secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Tom Vilsack, assinalou que “é importante continuarmos trabalhando juntos para apoiar decisões baseadas na ciência e desenvolver tecnologias e ferramentas inovadoras que permitam uma produção e um sistema de produção agrícola resilientes”. Já a ministra equatoriana, Tanlly Vera Mendoza, ressaltou que “precisamos de uma agricultura familiar em que a mulher rural possa ter um papel substancial”, e solicitou a institucionalização do Fórum de Ministras e Secretárias de Agricultura das Américas lançado recentemente pelo IICA e pelos governos da região.
Do México, o Secretário de Agricultura e Desenvolvimento Rural, Víctor Villalobos, enfatizou a importância da produção aliada à sustentabilidade.
“Não podemos continuar produzindo como fizemos nos últimos 60 anos: o custo ambiental que pagamos foi altíssimo, como também é altíssimo o saldo de exclusão social, sendo esta a grande dívida que teremos de pagar. Temos o desafio de continuar produzindo alimentos para uma população em permanente crescimento, mas precisamos fazê-lo de maneira mais sustentável”, observou.
Renato Alvarado, Ministro da Agricultura e Pecuária da Costa Rica, que participou da Conferência com o presidente do seu país, Carlos Alvarado, disse que “os agricultores e as agricultoras fizeram um grande esforço para continuar trabalhando com ações climáticas e resilientes, a fim de que a agricultura seja sustentável ambiental, econômica e socialmente”.
No entanto, reconheceu que, depois de termos exigido dos nossos agricultores que continuem produzindo no campo, “nós os esquecemos, sobretudo no que diz respeito ao valor dos seus produtos, e não conseguimos conectividade suficiente para alcançarmos a transformação efetiva da agricultura. Esta é uma tarefa pendente”.
Na Conferência, além dos debates protagonizados pelos ministros, na Sede Central do IICA foi inaugurado o Centro de Interpretação do Amanhã da Agricultura (CIMAG), uma iniciativa que une agro, educação e tecnologia e que conta com a apoio da Microsoft, da Bayer, da Lego e de outras companhias.
Também foi assinado um acordo entre o Fundo Verde para o Clima (Green Climate Fund) e o IICA para apoiar iniciativas de adaptação e resiliência climática da agricultura e da ruralidade nos países das Américas, entre outras iniciativas.
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